segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Palavras Bordadas: Olinda Evangelista



Meus primeiros pontos com linha e agulha parecem ter sido aqueles das roupinhas de boneca... Lembro-me de subir numa seringueira, em Jandaia do Sul, norte do Paraná, e juntar os paninhos ou, meu preferido, recortar meias para fazer vestidinhos, sainhas, blusinhas, calcinhas – tudo às expensas das meias de meu pai.

Também aprendi a costurar à máquina, uma Singer que minha mãe ganhou de meu pai, que a ensinou a usar. Minha mãe, Dona Lazinha, bordava meus vestidos... ponto rococó, ponto cheio, ponto sombra, aplicação... No Ginásio e na Escola Normal passei pelas aulas de trabalhos manuais e aprendi ponto atrás, ponto cheio, correntinha... Eu bordava biquínis, camisetas, alpargatas com estrelinhas, lantejoulas e miçangas.

O estudo e depois o trabalho me distanciaram dos panos, linhas e agulhas. Muito mais tarde, lá por 1992, readquiri o gosto pelo bordado, especialmente com a Dona Thereza, vó do Thomás, com quem aprendi um pouco de ponto cruz. Mas não fui longe. Muita perfeição.

Em 2003 fui para Portugal com a Bete Faria e lá tomei contato com o “lenço dos namorados”, uma tradição que vinha sendo recuperada no país. Comprei uma revista para reaprender o “ponto atrás” e tirar o risco. Comprei pano, linhas e agulhas e bordei o primeiro paninho. Tinha uma trovinha portuguesa, mas o desenho era espanhol. Foi o primeiro que bordei e dei pra Bete.

Quando me mudei para Florianópolis, em fins de 1991, conheci os bordados de Dona Maria Celeste Neves, expostos na Casa Açoriana, em Santo Antônio de Lisboa. Fiquei encantada! Mas naquele momento não me passou pela cabeça bordar algo assemelhado. Entretanto, quando voltei de Portugal fui convidada pela Sonia Beltrame para participar de um grupo de mulheres. Juntávamo-nos para bordar, num sentido muito amplo. Fazíamos fuxicos com panos reciclados, comprados, ganhados... esse grupo veio a chamar-se Respigar e dele faziam parte a Sonia, nossa madrinha, a Silvia Da Ros, a Ana Baiana, a Bea, a Eloísa, a Olga. Outras colegas fizeram parte, mas não permaneceram, como a Lucena – co-fundadora – e a Maria de Fátima Sabino. Mais tarde entrou a Bel.

Foi no Respigar que conheci dois “panozinhos” maravilhosos! A Sonia os trouxe para a Silvia e a Olga. Comprou de sua ginecologista, Maria Inês. Até hoje não sei o nome da bordadeira, mas sei que é octogenária, como a Dona Maria Celeste. Seu bordado não é como o da Dona Maria Celeste, embora tenham algo em comum. Só quando os vi é que pensei se eu seria capaz de fazer algo parecido. Percorri inúmeros sebos, nada me ajudou. Peguei então muitos livros infantis, poesias, panos, linhas, agulhas e tentei elaborar um bordado. Bordei, então, meu primeiro “pano” com uma poesia do Mario Quintana. E não parei mais.

Depois do Respigar passei a compor também o grupo Roda de Bordado, sediado no Campeche, do qual fazem parte Bea, Verinha, Flávia, Rozi, Bel, Olga. Com menor freqüência, participam Carminha e Evanilde. Neste também passaram outras colegas, como a Cátia, Débora, Mabel...

Agora, um outro grupo começa a nascer no Campeche. Bel e eu estamos ensinando bordado para a Rose, Fernanda e Paty.

De ponto em ponto vão aumentando as bordadeiras. Encontramos um nome para nosso trabalho: bordado sobre retalho. Acho bonito.

Esqueci de dizer que sou professora no Curso de Pedagogia, na Universidade Federal de Santa Catarina. Tento conjugar minhas aulas com meus bordados. Não quero perder o prazer de bordar palavras.

Nenhum comentário: